Voltando agora do importantíssimo trabalho entre os mortos à consideração do trabalho entre os vivos, devemos fazer uma referência a um ramo importante desse trabalho, o qual, se não fosse notado, tornaria este estudo da obra dos auxiliares invisíveis, na verdade, incompleto; trata-se da grande parte do trabalho que é feito por sugestão, isto é, simplesmente pondo bons pensamentos nos espíritos aptos a recebê-los.
Não haja equívoco sobre o que acaba de se escrever. Seria perfeitamente fácil — fácil a um ponto inteiramente incrível a qualquer pessoa que não compreenda praticamente o assunto — a um auxiliar dominar o espírito de qualquer indivíduo normal, e fazê-lo pensar o que quisesse, e isso sem ele levantar a mais leve suspeita de influência estranha no seu espírito. Mas, por admirável que pudesse ser o resultado, este processo seria inteiramente inadmissível. O mais que é permitido fazer é lançar o bom pensamento para dentro do espírito da criatura como uma das centenas de pensamentos que constantemente o atravessam; e o indivíduo o aceita, o torna seu e age no sentido dele, são coisas que dependem inteiramente do próprio indivíduo. Se as coisas se dessem de outro modo é claro que todo o bom carma da ação caberia apenas ao auxiliar, porque o indivíduo influenciado teria sido apenas um joguete, e não um agente — e não é isso que se deseja conseguir.
O auxílio dado desta forma assume aspectos extremamente variados. Ocorre-nos imediatamente que um deles é a consolação dos que estão sofrendo ou tristes, e outros tentar guiar para a verdade aqueles que ardentemente a procuram. Quando um indivíduo está dedicando o seu constante pensamento a qualquer problema espiritual ou metafísico, é muitas vezes possível colocar-lhe a solução no espírito sem que ele tenha consciência que ela é devida a uma agência externa.
Um aluno pode também ser empregado como agente no que se não pode descrever senão como uma resposta a uma prece; porque, conquanto seja certo de qualquer intenso desejo espiritual, daqueles que se podem conceber como manifestando-se em oração, é já de si uma força que automaticamente produz certos resultados, também é certo que um esforço espiritual desses dá uma oportunidade de influência aos Poderes do Bem, e eles não tardam em se valer dessa oportunidade; é por vezes privilégio de um auxiliar dedicado ser escolhido para agente através do qual a energia desses Poderes se derrama. O que afirmamos da prece é ainda mais verdade com respeito à meditação, para aqueles para quem esse exercício mais elevado é possível.
Além destes métodos mais gerais de auxílio, outros há acessíveis apenas a uma minoria. Repetidas vezes, alunos para isso competentes, têm sido empregados para sugerir pensamentos verdadeiros e belos a autores poetas, artistas e músicos; mas é claro que não é qualquer auxiliar que pode ser usado para este fim.
Às vezes, ainda que menos freqüentemente, é possível avisar um indivíduo do perigo que, para o seu desenvolvimento moral, há em determinada ordem de pensamento pelos quais se está guiando, afastar más influências de qualquer pessoa ou lugar, ou contrariar as maquinações de magos negros.
Não é freqüente dar-se instrução nas grandes verdades da natureza a criaturas alheias ao círculo de estudantes do oculto, mas às vezes é possível fazer qualquer coisa neste gênero, colocando diante do espírito de um pregador ou de um professor uma ordem mais vasta de pensamentos, ou uma noção mais liberal de qualquer assunto, do que ele espontaneamente manifestaria.
Claro está que, à medida que um estudioso do oculto avança no Caminho, vai atingindo uma esfera de utilidade cada vez mais vasta. Em lugar de auxiliar apenas indivíduos, aprende como se auxiliam classes, nações e raças, e é-lhe entregue uma porção cada vez maior do trabalho superior e mais importante executado pelos próprios Adeptos, À medida que adquire o preciso poder e conhecimento, começa a manejar as forças superiores do acaso e da luz astral, e é-lhe indicado como melhor se pode aproveitar de cada influência cíclica favorável. E posto em contato com esses grandes Nirmanakayas que às vezes são simbolizados como as Pedras do Muro da Guarda, e torna-se — primeiro, é claro, na mais humilde das capacidades — um do grupo dos seus esmoleres, aprendendo como são difundidas aquelas forças que são o fruto do sublime sacrifício de si próprios. Assim vai subindo cada vez mais até que, chegando por fim ao grau de Adepto, pode tomar a sua parte da responsabilidade que pesa sobre os Mestres da Sabedoria e auxiliar outros a seguir o caminho que ele próprio percorreu.
No plano devacânico o trabalho é já um pouco diferente, visto que ali o ensino pode ser dado e recebido de uma maneira muito mais direta, rápida e perfeita, e as influências postas em ação são infinitamente mais poderosas, por agirem num nível tão superior, Mas (ainda que seja por enquanto inútil referirmo-nos a esse plano, pois que pouquíssimas são as pessoas capazes de nele funcionar durante a vida) aqui também — e mesmo mais acima — há sempre muito trabalho a fazer, logo que nos tornamos capazes de o tomar sobre nós; e não há na verdade a recear que durante milênios sem conta venhamos alguma vez a encontrar-nos sem ter aberta diante de nós uma carreira de utilidade altruísta.