O Domínio da Emoção

Submitted by Estante Virtual on Wed, 12/14/2011 - 16:36

 

Este livro terá sido compilado em vão se o estudante não tiver ficado impressionado pela necessidade de, primeiro, controlar o corpo astral; em segundo lugar, de treiná-lo gradualmente para ser o veículo da consciência, completamente submetido à do homem real, o ego; e, em terceiro lugar, no devido tempo, de continuamente desenvolver e aperfeiçoar os vários poderes desse corpo.

A pessoa mundana média pouco sabe e pouco se importa como o que se refere a tais assuntos: mas para o estudante de ocultismo é claramente de importância fundamental que ele atinja o domínio integral de todos os seus veículos – o físico, o astral e o mental. E, embora para propósitos de análise e estudo seja necessário separar esses três corpos e estuda-los individualmente, na vida pratica, ainda assim veremos que em grande parte o treinamento de todos eles pode ser levado a efeito, simultaneamente, de modo que qualquer poder desenvolvido num deles ajude de certa forma o treinamento dos outros dois.

Já vimos o quanto é desejável a purificação do corpo físico, por meio do alimento, da bebida, da higiene etc., a fim de se tornar ligeiramente menos difícil o controle do corpo astral. O mesmo princípio se aplica, ainda com maior força, ao corpo mental, porque é, em última análise, apenas pelo uso da mente e da vontade que os desejos, emoções e paixões do corpo astral podem ser levados à perfeita submissão.

Para muitos temperamentos, pelo menos, um cuidadoso estudo da psicologia da emoção é de auxílio muito grande, pois é claramente muito mais fácil trazer sob controle uma força cuja gênese e natureza são integralmente compreendidas.

Com esse propósito, o presente escritor recomenda, muito veementemente, um estudo completo dos princípios que se expõem naquele tratado magistral que The Science of the Emotions, de Bhagavan Das.

(Uma súmula admirável desse trabalho foi escrita por K. Browning. M. A., sob o título Na Epítome of the Science of the Emotions. ) A tese principal pode ser resumida como se segue:

 

 

 

Gênese das Emoções
QualitativaQualitativaEmoção-elemento PrimáriaGraus da Emoção
1234
AMOR (por)SuperiorReverênciaCulto
Adoração
Reverência
Estima
Respeito
Admiração
IgualAfeiçãoAfeição
Companheirismo
Amistosidade
Polidez
InferiorBenevolênciaCompaixão
Ternura
Bondade
Piedade
ÓDIO (por)SuperiorMedoHorror
Terror
Medo
Apreensão
IgualCóleraHostilidade
Rudeza
Aversão
Frialdade
Indiferença
InferiorOrgulho ou tiraniaIronia
Desdém
Desprezo
Arrogância

 

Toda existência manifestada pode ser analisada no eu, no não-eu e no relacionamento entre os dois.

Esse relacionamento pode ser dividido em: ( 1 ) cognição ( Gnyânam) ; ( 2) desejo ( Ichchâ); e (3) ( Kryâ), Saber, desejar e esforçar-se ou agir compreendem, todos os três, o todo da vida consciente.

De duas qualidades são os sentimentos e as emoções: agradáveis ou dolorosos. O prazer, fundamentalmente uma sensação de plenitude, produz atração, amor ( râga ); a dor, fundamentalmente um senso de diminuição, produz repulsa, ódio ( dvesha ).

Da atração procedem todas as emoções de amor; da repulsa procedem todas as emoções do ódio. Todas as emoções surgem do amor ou do ódio, ou de ambos, em vários níveis de intensidade.

A precisa natureza de uma emoção particular é também determinada pelo relacionamento entre quem sente a emoção e o objeto que é o motivo da emoção. O que sente a emoção pode ser , no que concerne às circunstancias vinculadas com a emoção particular, maior que, igual a, ou menor que o objeto.

Seguindo essa análise, chegamos aos seis possíveis tipos de elementos-emoções dados na coluna três da tabela que se segue. A coluna quatro dá subdivisões dos elementos primários em vários graus de intensidade, os mais fortes estando à frente e os mais fracos ao pé de cada grupo.

Todas as emoções humanas consistem de um desses seis elementos-emoções, ou mais frequentemente, de dois ou mais deles combinados. O estudante deve agora ser remetido ao tratado acima mencionado para uma elaboração pormenorizada dos princípios fundamentais da gênese das emoções. Seu trabalho terá ampla recompensa.

Outra linha valiosa de estudo, para o estudante que pretende o autoconhecimento a fim de chegar ao autodomínio, é o da consciência coletiva, ou da multidão. O melhor livro, entre os melhores que o presente autor conhece, sobre esse interessante assunto, é The Crowd in Peace and War ( “A Multidão na Paz e na Guerra”), de Sir Martin Conway.

Com maravilhosa lucidez e riqueza ilustrativa, Sir Martin demonstra os seguintes fatos fundamentais:

( 1 ) Em sua grande maioria, os homens são educados em meio de, e suas vidas pertencem, a certas “multidões” psicológicas, isto é, a grupos de pessoas que pensam e, sobretudo, sentem de maneira similar. Tais multidões estão no lar, nos amigos e associados, nas escolas e universidades, nas profissões, nas seitas religiosas, nos partidos políticos, na escola de pensamento, nas raças e assim por diante. Até os que lêem os mesmos jornais formam uma “multidão” psicológica.

( 2 ) Essas multidões são formadas, nutridas e dominadas principalmente pelos sentimentos e emoções – não pelo pensamento. A multidão tem todas as emoções, mas não tem intelecto: pode sentir, mas não podem pensar. Raramente, ou nunca, as opiniões da multidão alcançam a razão. São apenas paixões, contagiosas que percorrem todo o corpo como corrente elétrica, originando-se tal corrente, frequentemente, em um único cérebro. Uma vez envolvido pela multidão, o individuo rapidamente perde seu poder de pensar e sentir individualmente e torna-se um com a multidão, participando de sua vida, de suas opiniões, de suas atitudes, de seus preconceitos e coisas assim.

( 3 ) Poucos são os que já tiveram a coragem ou a força de romper as ligações com as várias multidões a que pertencem: a vasta maioria permanece durante toda a sua vida sob o domínio dos grupos que a absorveram.

Nosso autor começa então a enumerar e descrever as várias virtudes da multidão e a mostrar que elas diferem das virtudes do indivíduo, sendo no todo de nível bem inferior e mais primitivo.

Cada multidão, sendo incapaz de conduzir a si própria, precisa e encontra um líder. De tais líderes, há três tipos:

( a ) O dominador da multidão. É o que domina e lidera a multidão, impondo-lhe suas próprias idéias através da força de sua própria personalidade. Exemplos disso são Napoleão, Disraeli, César, Carlos Magno.

( b ) O intérprete da multidão. Este tipo, totalmente diferente do dominador da multidão, é o que sente, através de sensibilidade natural, o que a multidão sente ou vai sentir, o que expressa em linguagem quase sempre clara e gráfica, as emoções da multidão, linguagem que, por si mesma, é inarticulada. Tais homens raramente pensam em um problema e imediatamente se põem a pregar seu evangelho. Preferem esperar que as emoções da multidão tomem forma: mergulham, então, no bojo da luta, e dizem, com eloqüência, poder e entusiasmo, aquilo que o povo que o rodeia está vaga e veladamente sentindo. Exemplos desse tipo são muito comuns, especialmente no terreno da política.

( c ) O representante do povo. Líderes da multidão deste tipo são antes pitorescas figuras-de-proa do que forças individuais. Exemplos típicos são os reis constitucionais, um cônsul, um embaixador, um juiz ( pelo menos na Inglaterra). Esses homens são meramente o povo, a “opinião pública” personificada: falam com a voz do povo, atuam por ele e postam-se, por ele, aos olhos do mundo. Devem suprimir ou ocultar suas opiniões individuais e dar a impressão de sentirem como o publico sente, e agirem de conformidade com os desejos e sentimentos do público.

O que ficou acima é um simples esboço dos princípios de liderança enunciados no livro mencionado, obra extremamente feliz, e insistimos com o estudante para que faça, por si mesmo, um cuidadoso estudo daquele trabalho. Ele o ajudará, não só a apreciar com maior justiça as forças através das quais “o público” é movimentado, mas também a valorizar pelo seu verdadeiro valor suas próprias crenças, opiniões e atitudes em relação a muitas questões do momento.

É evidentemente da maior importância que, em todos os seus sentimentos e pensamentos, o estudante de ocultismo atue deliberada e conscientemente. A expressão grega Gnothi seauton – Conhece a ti mesmo – é um conselho excelente, porque o autoconhecimento é absolutamente necessário a qualquer candidato, se tem de progredir. O estudante não deve consentir em ser arrastado, submergindo na emoção coletiva – ou formas-de-pensamento que produzem um tipo de atmosfera através da qual tudo é visto e pela qual tudo adquire coloração, e que tão claramente domina e movimenta as muitas multidões entre as quais se movem. Não é coisa fácil manter-se contra a inclinação popular, devido ao choque incessante que sofremos por parte das formas-pensamentos e das correntes de pensamento que enchem a atmosfera; ainda assim, o estudante de ocultismo deve aprender a fazer isso.

Ele deve, ademais, ter a capacidade de reconhecer os vários tipos de líderes da multidão, e a de recusar-se a se deixar dominar, persuadir ou lisonjear a fim de aceitar idéias ou seguir linhas de ação, a não ser que faça isso bastante deliberadamente, e com suas próprias faculdades alerta.

As influencias das multidões psicológicas e dos lideres das multidões no mundo de hoje, bem como provavelmente em todos os tempos, é realmente muito grande; as forças que manejam são sutis e de longo alcance, de forma que o estudante que pretende o autodomínio e que deseja conduzir sua própria vida emocional e intelectual deve estar continuamente em guarda contra essas insidiosas influências.

O presente escritor é de opinião que um estudo dos livros The Science of the emotions e the Crowd in Peace and War forma um preliminar inestimável para a tarefa de treinar e desenvolver o corpo astral até que ele se torne um servo útil e obediente frente à vontade soberana do ego.

Insistimos também em outra linha de estudo, a da mente sub-consciente, hoje muitas vezes chamada “inconsciente”. Com esse propósito, como introdução ao assunto, se recomenda o livro The Law of Psycbic Phenomena ( “A lei dos Fenômenos Psíquicos”) , de T. J. Hudson.

Estudando aquele livro, o estudante deve ter em mente que ele foi escrito em 1892. À luz do conhecimento presente não será necessário subscrever o todo das análises, classificações ou terminologia de Hudson, Ademais, na opinião do presente escritor, Hudson sobrecarrega demasiadamente as suas premissas e estende suas teorias bem para além do ponto de resistência. Contudo, o livro é de grande valor, primeiro por encorajar um saudável ceticismo quanto a aceitar muito facilmente explicações plausíveis e fluentes sobre muitos fenômenos psíquicos e, em segundo lugar, por trazer ao ponto, com grande força, as tremendas potencialidades latentes na parte subconsciente da natureza do homem e que podem ser utilizadas pelo estudante prudente e discreto com efeito considerável no controle de sua própria natureza astral, purificando e fortalecendo, em geral, seu próprio caráter. Há naturalmente uma quantidade de livros mais modernos que também o auxiliarão nesse sentido.

Resumindo, Hudson declara:

( 1 ) Que a mentalidade do homem é claramente divisível em duas partes, cada uma delas com seus próprios poderes e funções. Chama-se mente objetiva e mente subjetiva.

( 2 ) A mente objetiva é aquela que toma conhecimento do mundo objetivo, usando como meio de observação os sentidos físicos e tendo sua função mais alta na razão.

( 3 ) Que a mente subjetiva toma conhecimento do ambiente por meios que são independentes dos sentidos físicos. Ela é a sede das emoções e o depósito da memória. Realiza suas mais altas funções quando os sentidos objetivos estão em temporária inatividade, isto é, num estado de sonambulismo ou hipnotismo. Muitas das outras faculdades atribuídas à mente subjetiva por Hudson são claramente as do corpo astral, isto é, a capacidade de viajar para longas distâncias, de ler os pensamentos etc.

Ademais, ao passo que a mente objetiva não é controlável pela “sugestão” contra a razão, a mente subjetiva é constantemente acessível ao poder da sugestão, seja a que vem de outras pessoas ou a que vem de mente objetiva de seu próprio dono.

Com o auxílio do moderno conhecimento relativo aos nossos corpos mental e astral e à natureza e uso das formas-pensamentos-e-emoções, o estudante encontrará aqui muitas confirmações independentes e interessantes daquilo que aprendeu das autoridades teosóficas e, como já foi dito, estará melhor capacitado para compreender os virtualmente ilimitados poderes latentes em sua própria estrutura psicológica, que ele pode usar ao longo das linhas estabelecidas pelos ocultistas de renome: tais como as da meditação, por exemplo. Compreenderá também, talvez bem mais vividamente do que antes, a forma pela qual Kama, ou desejo, e manas, ou mente, estão entretecidos, e como podem ser desembaraçados para o grande beneficio de serem ambos fortalecidos.

Devemos recordar que é pelo pensamento que o desejo pode ser transformado e, finalmente, dominado. Conforme a mente aprende a afirmar seu controle, o desejo se transforma em vontade; a influencia não vem então de objetos externos que atraem o repelem, mas do espírito do homem, do ego, do governante interno.

Retornaremos agora às nossas mais específicas autoridades “teosóficas” e continuaremos a considerar certos outros fatores que entram no desenvolvimento e treinamento do corpo astral.

É óbvio que o estudante deveria visar o domínio e eliminação de certos defeitos menores, tais como fraqueza emocional e vícios. Nessa tarefa é importante recordar que um vício, tal como a irritabilidade, por exemplo, que se tornou hábito através de repetido consentimento, está armazenado, não no ego como qualidade inerente, mas no átomo astral permanente. Seja qual for a força que ali se acumulou, é uma certeza cientifica a que diz que a perseverança, no devido tempo, terá a vitória. Do lado do ego há a força de sua própria vontade e através dela a força infinita do Próprio Logos, porque o progresso através da evolução é a Sua Vontade. A compreensão da idéia de unidade assim exposta dá ao homem motivo adequado para a tarefa, indubitavelmente dura e às vezes desagradável, da construção do caráter. Por muito grande que seja a luta, estando as forças do Infinito de se lado, ele tenderá definitivamente a dominar as forças finitas do mal que armazenou em suas vidas passadas.

Um homem que procura matar o desejo, a fim de equilibrar perfeitamente seu Karma e dessa forma obter a própria liberação, pode atingir esse objetivo. Não pode contudo escapar à lei da evolução e mais cedo ou mais tarde será arrastado de novo para a frente, para a corrente, pela sua pressão irresistível,e forçado assim a renascer. Matar o desejo não é o caminho do verdadeiro ocultista.

Amores pessoais não devem ser mortos, mas devem ser expandidos até que se tornem universais: amores devem ser erguidos de nível, não rebaixados. A falta de compreensão neste ponto e as tremendas dificuldades da tarefa, quando compreendidas, levam, em alguns casos, à sufocação do amor e não ao seu crescimento. Será o transbordamento do amor, não o desamor, o que salvará o mundo. Um Mahatma é um oceano da Compaixão; não um iceberg. Tentar matar o amor é o método usado no caminho da esquerda

Também foi dito que devemos exterminar a “forma lunar”, isto é, o corpo astral. Isso não significa que todos os sentimentos e emoções devam ser destruídos, e sim, que o corpo astral deve estar inteiramente sob controle, e devemos estar capacitados para matar a forma lunar quando quisermos.À proporção que o homem se desenvolve, coloca a sua vontade em unidade com a vontade do Logos, e o Logos deseja evolução. É inútil dizer que tal unificação elimina, ipso facto, desejos tais como ambição, anseio de progresso e outras coisas assim.

A Voz do Silencio nos alerta para o fato de haver, sob cada flor do mundo astral, por muito bela que seja, a serpente enrolada do desejo. No caso da afeição, por exemplo, tudo o que tenha natureza de apego deve ser inteiramente transcendido; mas a afeição pura, elevada, destituída de egoísmo, jamais pode ser transcendida, já que é uma característica do Próprio Logos, e qualificação necessária para o progresso ao longo do Caminho, que leva aos Mestres e à Iniciação.

 

 

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