P: Os fundadores, o coronel H. S. Olcoít ou H. P. Blavatsky, tiraram algum dinheiro, proveito ou beneficio mundano, graças à Sociedade Teosófica, como dizem alguns jornais?
T: Nem um só centavo. Os jornais mentem. Ambos, ao contrário, deram tudo quanto possuíam e arruinaram-se completamente. Quanto aos "benefícios mundanos", pense nas calúnias e difamações de que foram objeto e julgue você mesmo!
P: Li em vários órgãos dos missionários que os direitos de entrada e as subscrições cobriam todos os gastos com vantagens; e um deles dizia que os fundadores tiravam 20 mil libras por ano.
T: Isto é um conto, como tantos outros. Nas contas publicadas em janeiro de 1889, encontrará a quantidade exata de todo o dinheiro recebido desde 1879. O total recebido por todas as formas (direitos de entrada, doações etc.), durante esses dez anos, não chega a 6 mil libras; e grande parte desta soma foi entregue pelos próprios fundadores, produto de seus recursos particulares e de seus trabalhos literários. Tudo isto foi reconhecido pública e oficialmente, até mesmo pelos nossos inimigos da Sociedade de Investigações Psíquicas. E agora encontram-se ambos os fundadores sem um centavo: um deles, demasiado velho e enfermo para trabalhar como fazia antes, sem poder dedicar tempo ou trabalho literário algum que pudesse auxiliar financeiramente a Sociedade, apenas pode escrever em defesa da causa teosófica; o outro continua trabalhando por ela como antes, sem receber sequer agradecimento.
P: Mas necessitam dinheiro para viver.
T: De forma nenhuma. Contam com alimento e casa graças ao afeto de alguns amigos, e necessitam de bem pouco além disso.
P: Mas pelo menos madame Blavatsky não poderia tirar o necessário para viver, por meio de seus escritos?
T: Quando se encontrava na Índia, recebeu em média umas mil rupias anuais por artigos escritos para jornais russos e outros, mas entregou tudo à Sociedade.
P: Artigos políticos?
T: Jamais. Tudo o que foi escrito durante os sete anos de permanência na Índia está impresso. Trata apenas de religiões, etnologia e costumes da Índia, bem como de Teosofia, nunca de política, do que não entendo e menos ainda me importa.
Há dois anos recusei vários contratos que poderiam dar uns 1.200 rubros-ouro mensais, pois não poderia aceitá-los sem abandonar o trabalho para a Sociedade, que necessitava de todo meu tempo e energia. Posso provar com documentos.
P: Mas por que não puderam ambos jazer o que fazem tantos teósofos, isto é, exercer sua respectiva profissão e dedicar o tempo restante ao trabalho da Sociedade?
T: Porque servindo a dois amos, ou o trabalho profissional ou a obra filantrópica haveria de se ressentir. Todo verdadeiro teósofo está moralmente obrigado a sacrificar o pessoal ao impessoal, seu bem ou proveito presente ao benefício futuro dos demais. Se os fundadores não derem o exemplo, quem dará?
P: E são muitos os que o seguem?
T: Tenho obrigação de responder a verdade. Na Europa há meia dezena, num número maior de Ramas.
P: Não é certo que a Sociedade Teosófica possui um grande capital?
T: É falso. E agora que o direito de entrada de uma libra e o pequeno tributo anual foram suprimidos, não sabemos se o pessoal que vive na sede geral da índia não morrerá de fome.
P: Então por que não organizam subscrições?
T: Não somos o Exército da Salvação, não podemos mendigar, nem o fizemos jamais, nem seguimos o exemplo das Igrejas e seitas "que recorrem à esmola". O que se remete ocasionalmente para sustentar a Sociedade, e as pequenas quantidades com que contribuem alguns membros, são todas doações voluntárias.
P: Mas fala-se de grandes somas entregues a madame Blavaísky. Diz-se que há uns quatro anos recebeu 5 mil libras esterlinas de um membro jovem e rico que foi à Índia, e 10 mil libras esterlinas de um senhor americano, rico e conhecido, que fazia parte da Sociedade e morreu na Europa há quatro anos.
T: Diga a quem lhe contou tal coisa, que formula ou repete uma grosseira falsidade. Madame Blavatsky jamais pediu um só centavo a nenhum desses senhores, nem o recebeu deles nem de ninguém, desde que se fundou a Sociedade Teosófica. Se qualquer ser humano sustentar esta calúnia, lhe será mais fácil provar que o Banco da Inglaterra está à falência, do que demonstrar que a citada fundadora tirou dinheiro da Teosofia. Estas calúnias foram inventadas por duas senhoras pertencentes à aristocracia londrina, que imediatamente foram descobertas e refutadas. São os cadáveres, os esqueletos de duas invenções que, depois de terem sido sepultadas no mar do esquecimento, ainda uma vez aparecem na superfície das águas estagnadas da maledicência.
P: Também ouvi falar de vários legados importantes deixados à Sociedade Teosófica. Um destes (aproximadamente 8 mil libras esterlinas), de um inglês excêntrico que nem sequer pertencia à Sociedade. O outro (3 ou 4 mil libras), foi colocado em testamento por um australiano, membro da Sociedade. Isto é certo?
T: Do primeiro ouvi falar; e sei também que, deixado legalmente ou não, a Sociedade Teosófica jamais tirou proveito algum dele, e nem os fundadores tiveram conhecimento oficial do mesmo. Porque, como então nossa Sociedade não estava legalmente constituída, e, portanto, não tinha existência legal, segundo nos disseram, a autoridade judicial não levou em consideração o tal legado e devolveu a quantia aos herdeiros. Quanto ao segundo, é perfeitamente certo. O doador era um de nossos membros mais dedicados e deixou tudo quanto possuía à Sociedade. Mas quando nosso presidente, coronel Alcott, começou a estudar o assunto, viu que o doador tinha filhos a quem havia deserdado por algumas questões de família. Em conseqüência, reuniu um conselho que resolveu recusar o legado e entregar o dinheiro aos herdeiros legais. A Sociedade Teosófica seria indigna do nome que leva se se aproveitasse do dinheiro que pertence aos outros, se não legalmente, pelo menos virtualmente, segundo os princípios teosóficos.
P: Baseando-se na autoridade de seu próprio jornal — o Theosophist — há um rajá da índia que doou 25 mil rupias à Sociedade. Não o agradeceu por sua magnanimidade, no Theosophist de janeiro de 1888?
T: Nós o fizemos com estas palavras: "Transmitimos as graças da convenção à S.A. o Maharajah... por seu generoso presente prometido de 25 mil rupias aos fundos da Sociedade". As graças foram enviadas a tempo, mas o dinheiro continua ainda em estado de "promessa", e não chegou à sede central.
P: Se o Maharajah fez esta promessa e por ela recebeu os agradecimentos publicamente e por impresso, seguramente manterá a palavra.
T: Pode ser que o faça, embora a promessa já tenha 18 meses. Falou do presente e não do futuro.
P: E como pensam poder continuar?
T: Enquanto a Sociedade puder contar com alguns membros leais, dispostos a trabalhar por ela sem recompensa nem agradecimento; enquanto uns poucos teósofos sinceros a sustentarem com donativos periódicos, viverá e nada poderá destruí-la.
P: Ouvi muitos teósofos falarem do "poder invisível da Sociedade", de certos "Mahatmas" - que também foram mencionados nas obras de Sinnett — os quais, segundo se diz., fundaram a Sociedade, vigiam-na e a protegem.
T: Você pode rir, mas é assim.